domingo, 7 de dezembro de 2014

Paganismo Piaga e a diversidade pagã nativa brasileira

Politeísmo paraense: Baba Tayandó e o culto
à Cabocla Erondina, encantada da Turquia.
O Paganismo no Brasil é, certamente, diversificado. Temos um movimento neopagão repleto de tradições, culturas, rituais, sistemas e práticas desconhecidas por aqueles que acreditam na existência de um "neopaganismo homogêneo", ignorando a pluralidade cultural e religiosa dentro do próprio contexto pagão.

A extensão territorial do nosso país, os diferentes fluxos migratórios e o modo como ocorreu a colonização de cada região são fatores que influenciaram bastante nas formas como o paganismo pode ser encontrado na atualidade, em cada um desses lugares.

O paganismo nativo brasileiro sobreviveu e continua sobrevivendo, muitas vezes oculto, sob forma de um "cripto paganismo" por vezes praticado sob rótulos diferentes do tradicional "paganus" europeu.


Cultura Popular: Reisado da Boa Hora (PI)

O paganismo nativo que sobreviveu no Brasil, sofrendo adaptações e transformações ao longo dos séculos, é um patrimônio constituído de um conjunto de inconstáveis tradições politeístas, culturas nativas que resistem até os dias atuais sob forma de mitos, tradições orais, danças, crenças, práticas xamânicas, grupos isolados e até na cultura popular. 

Para perceber a rica herança do paganismo nativo de nossos ancestrais, é preciso treinar os olhos, os ouvidos, o tato, aguçar a sensibilidade e principalmente, despir-se de rótulos. Só assim é possível enxergar a essência pagã nativa brasileira, que se oculta e passa despercebida pela maioria dos neopagãos do país.

Representação do Mito do Cabeça de Cuia, entidade piaga
Para alguns neopagãos brasileiros é até estranho ouvir a afirmação de que no Paganismo Piaga não se pratica "magia cerimonial", não temos círculo mágico, não temos "athames", "espadas"; alguns estranham ouvir que não somos uma tradição de "wicca". 

Mais estranho para alguns é quando ouvem que não somos, necessariamente, uma vertente de bruxaria, mas simplesmente uma tradição pagã, centrada no culto politeísta às Correntes (da Terra e Colona), na ancestralidade sagrada da terra e na celebração da natureza.

Isso quer dizer que nem todo piaga é necessariamente, um bruxo. O que podemos afirmar é que todo piaga é um pagão. o Culto Piaga é essencialmente comunitário, com práticas coletivas bem definidas e com regras específicas. 

Paje Zeneida Lima, no Marajó,
com o Culto politeísta aos Caruanas Encantados.
Mesmo assim os membros da tradição, em seus cultos individuais e privados, têm total liberdade para a prática de qualquer tipo de magia, bem como têm liberdade para exercerem o ofício de bruxos, pois acreditamos que o caminho espiritual não deve limitar, mas sim contribuir para a expansão da consciência, pois conhecimento e experiência nunca são demais.

Fica então a dica de reflexão para que evitemos julgar e rotular as culturas e tradições que não conhecemos. Infelizmente ainda é comum ver neopagãos difundindo avaliações equivocadas e sem fundamento, sobre tradições que não conhecem. 

Quando se olha de forma preconceituosa e se tece críticas a uma tradição pagã nativa, levando em conta parâmetros e conceituações eurocêntricas do que é "paganismo", se torna impossível contemplar as diferentes manifestações politeístas brasílicas, com suas ricas heranças espirituais e culturais.

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