Piaga Alado, padroeiro do resgate das tradições ancestrais piagas |
Uma figura enigmática surpreende e intriga a todos os que a contemplam em uma das paredes de pedra do Parque Nacional de Sete Cidades, localizado no interior do Piauí. Trata-se da figura conhecida por muitos nativos como “diabo”, mas que aqui denominamos de “Piaga Alado”.
A Pedra do Americano, em Sete Cidades, abriga um painel com enigmáticas pinturas rupestres, todas em vermelho vivo. Por conta de suas formações rochosas e grafismos rupestres curiosos, acredita-se que a região onde atualmente é o Parque de Sete Cidades foi a porta de entrada para a expansão do culto solar no Brasil antigo.
Dentre os vários símbolos encontrados no Parque, destacam-se várias cruzes solares e outros símbolos do tipo. Na opinião de alguns estudiosos essas cruzes seriam estilizações solares com traços megalíticos, simbolizando a estabilidade temporária do mundo e a manutenção do equilíbrio terrestre.
O pesquisador Reinaldo Coutinho, autor do livro "Enigmas de Sete Cidades", conclui que as figuras dispostas nessa região seriam basicamente representações celestes, como o sol, as estrelas, círculos dentro de círculos. Na sua obra Reinaldo comenta:
“Há também cruzes de diversos tamanhos que, para espanto dos estudiosos, se assemelham às das pinturas paleolíticas de um reduto arqueológico, na Extremadura, Espanha. Nem toda área é aberta a visitação. Para ir à chamada Sétima Cidade, cujas ruínas carecem de maior cuidado, é necessário permissão especial do Ibama.” (COUTINHO. p24.)
Pablo Villarrubia |
Em seu livro “Mistérios do Brasil”, Villarubia comenta:
“O desenho do que parece ser um homem alado e com chifres seria também de origem europeia, ao qual Mahieu chama de diabo. A roda solar, o esboço de uma suástica, os martelos de Thor e os dracares mostraria a natureza escandinava de algumas pinturas. Uma cruz mostra abaixo uma figura que ele identifica como a serpente do mundo, que também aparece representada com frequência nas estrelas e cruzes do período viking.” (MAUSO. P. 188)
Outra teoria lançada por Reinaldo Coutinho a respeito das inscrições é de que, numa época em torno de 5.000 antes da Era Vulgar, ou mesmo antes, teria chegado ao Brasil uma corrente cultural e enigmática extra ameríndia, vinda de terras longínquas, através do oceano Atlântico.
Reinaldo Coutinho |
“Era um ramo da cultura megalítica, da qual as ciências tradicionais têm dificuldades em identificar seu povo e ponto de origem. (...) Portadores de uma nova religião cujo cerne era o sol e de hábitos megalíticos desconhecidos para nossos primitivos habitantes, se instalaram pacificamente entre as comunidades indígenas, fomentando intensas relações ultramarinas entre suas regiões de origem e o nosso território. Donos de avançada bagagem cultural e de técnicas modernas, os misteriosos propagadores do megalitismo e do culto solar deram início a simbologia rupestre de nossos primitivos habitantes”. (COUTINHO. P 42)
Os sacerdotes indígenas que habitaram essa zona eram denominados de piagas ou pajés, homens que se destacavam por sua misantropia, sabedoria, misticismo e influência generalizada no meio nativo. Acredita-se que eles teriam desenvolvido, à sombra dos missionários megalíticos estrangeiros, uma escrita combinada, de natureza picto-ideográfica.
Esse tipo de escrita seria aquela em que determinado sinal representa aquilo que realmente é (pictograma), podendo simbolizar também um fato ou uma ideia (ideograma). Nesse caso, o pictograma representado por um desenho simples de um sol pode significar exatamente o sol. Por sua vez, o ideograma representado pelo mesmo sol pode abrigar acepções diversas, tais como o calor, ou dia, ou luz, ou culto solar, ou o povo do culto solar, etc.
Cruzes Solares gravadas em pinturas rupestres piauienses |
Em uma citação, Reinaldo Coutinho comenta:
“Que os pajés eram as figuras centrais e depositárias das antigas escritas indígenas de Sete Cidades, podemos afirmar pelo fato de haver em algumas pinturas rupestres do Parque as figuras destes sacerdotes em atitudes rituais, ao lado de inúmeros símbolos de sua picto-ideografia. (...) Nas regiões que sofreram com a influência do culto solar, como em Sete Cidades, podemos inferir que nos painéis de pinturas rupestres estão registrados principalmente dados astronômicos e da liturgia solar, além de fórmulas da farmacopeia sacerdotal, dados topográficos, calendários, antropônimos, anotações tribais, obituários, etc.”
Jacques de Mahieu |
Segundo o pesquisador francês Jacques de Mahieu, autor do livro "Os Vikings no Brasil", a região teria sido colonizada por vikings provenientes de Tihahuanaco, que por sua vez teriam dominado os nativos Tapuios e Tupis para que os mesmos servissem como auxiliares, inclusive nos cultos religiosos solares. Mahieu vai além e chega a propor traduções para algumas inscrições rupestres, incluindo uma inscrição gravada na pedra do americano, que significaria:
Inscrição:
Aulth mik/ Nialma/ Ifi/ tulsuia
Tradução:
Forte e poderoso/Nialma/ ifi pique/ aquela que brande o venábulo (Antiga arma com cabo, usada para caçar)
A partir dessa e de outras traduções Mahieu afirmou que os vikings (ou povos escandinavos) passaram pela região, influenciando os nativos e sendo responsáveis por muitos registros rupestres ali gravados.
O aspecto mítico do ser alado no Paganismo Piaga
Rafael Nolêto, coordenador do grupo de pesquisas e práticas piagas |
Intitulado pelos neopagãos piauienses de "Piaga Alado", essa figura rupestre é interpretada como símbolo do espírito ancestral, guardião do culto solar. É aquele que confere proteção e sacralidade para o solo onde se faz presente.
Uma entidade que para uns pode ser apenas um espírito guardião e que, para outros, pode se mostrar como uma face divina, manifestada nos antigos cultos piagas aos que assistiam as cerimônias de gravaram a imagem na pedra. Assume o papel de uma divindade guardiã da ancestralidade, do Sol, do culto piaga, dos rituais e dos conhecimentos ocultos.
Representações do Piaga Alado em esculturas |
Em representação moderna, sob forma de escultura, o Piaga alado é uma figura divinizada presente nos cultos devocionais e cerimônias piagas, sendo o guardião da magia e dos caminhos ancestrais.
Referências Bibliográficas:
- COUTINHO, Reinaldo. Enigmas de Sete Cidades. Piripiri, PI, 1997.
- MAHIEU, Jacques de. Os Vikings no Brasil. Ed. Francisco Alves, 1976.
- MAUSO, Pabro Villarrubia. Mistérios do Brasil. São Paulo: Ed. Mercuryo, 1997.
- SCHWENNHAGEN, Ludwig. Antiga História do Brasil: de 1100 a c a 1500 dc. Editora do Conhecimento, 2008.
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