quarta-feira, 20 de maio de 2015

Piaganismo

Piaganismo - ou Paganismo Piaga - é um termo utilizado para descrever o conjunto de tradições pagãs regionais, praticadas por grupos politeístas da região do Piauí. Como outras tradições pagãs, tem como características o politeísmo, a celebração de um calendário associado aos ciclos da natureza, bem como a valorização das tradições ancestrais nativas.

Mestre Babaçu, cultuado no Piaganismo
Caracterizado por ser um culto endêmico da região piauiense, é praticado por grupos denominados "Aldeias", espalhadas por municípios como Teresina, Parnaíba e São Raimundo Nonato. Geograficamente estas tradições se estendem do norte ao sudeste piauiense, restringindo-se a determinadas áreas. Alguns estudiosos, como Ludwig Shwenhagen e Jacques de Mahieu, em obras literárias publicadas no século XX, referem-se aos povos piagas como antigos povos de culto solar, sendo os ancestrais dos atuais povos que habitam a região, tendo os mesmos colonizado a região antes da chegada dos portugueses ao Brasil.

Com poucas fontes escritas, a tradição se mantem viva através da oralidade e das celebrações periódicas que reúnem os membros em encontros regionais, onde são celebrados diversos Deuses estrangeiros e também do panteão nativo brasileiro, além de entidades denominadas "Encantados".

Antecedentes

Pintura Rupestre mostrando ritual de culto à árvore sagrada
O território piauiense possui um dos mais ricos acervos de arte rupestre do mundo, além dos primeiros vestígios da presença humana nas Américas, encontrados no Parque Nacional Serra da Capivara. Os adeptos do piaganismo acreditam que os vestígios arqueológicos da região são heranças da sacralidade ancestral, por retratarem cenas da vida cotidiana, rituais e outros símbolos "misteriosos", encontrados em praticamente todo o território do Estado.

Além de povos primitivos que habitaram a região, também há quem defenda a teoria da presença de fenícios no Brasil, assim como outros povos estrangeiros que passaram pela região antes da chegada dos colonizadores portugueses. Esses povos teriam desenvolvido no Piauí uma forte cultura, caracterizada inclusive pelo culto solar.

Figura rupestre interpretada como
o Guardião da fé ancestral Piaga

Terminologia

O termo piaga significa o mesmo que pajé; sacerdote curador, xamã. De acordo com o escritor austríaco Ludwig Shwenhagen, o termo Piaga significa "Propagador de Fé" e seriam antigos sacerdotes de culto solar, líderes espirituais que habitaram a região onde atualmente encontra-se o Piauí, antes da chegada dos portugueses. Alguns teóricos defendem que o termo piaga deu origem ao nome atual do estado do Piauí, que significaria literalmente "terra de piagas".

Fontes

O conjunto daquilo que conhecemos como paganismo piaga foi reunido e compilado a partir das descobertas arqueológicas e da literatura produzida após a cristianização da região.

Fontes Literárias

Um dos livros de
referência aos estudos piagas
As fontes literárias que dão embasamento ao culto piaga consistem em obras clássicas sobre a história oculta do Piauí, bem como obras sobre a mitologia regional. Dentre os principais autores que abordam a história mística da região: Ludwig Schwennhagenn (Antiga História do Brasil); Jacques de Mahieu (Os Vikings no Brasil) e Reinaldo Coutinho (Enigmas de Sete Cidades). Dentre as obras que abordam a mitologia regional, destacam-se obras de Fontes Ibiapina (autor de "Passarela de Marmotas"). Outras fontes que abordam aspectos da arqueologia, colonização e formação cultural do povo piauiense também são utilizadas pelos pesquisadores que buscam entender o culto piaga.

Fontes Arqueológicas

Arco do Covão, um dos diversos sítios arqueológicos do Piauí
Muitos sítios arqueológicos no Piauí renderam informações valiosas sobre a antiga cultura do local. Alguns dos exemplos culturais mais antigos existentes são as pinturas rupestres encontradas no Parque Nacional Serra da Capivara e no Parque Nacional de Sete Cidades, ambos em território piauiense.

São grafismos encontrados em paredões, cavernas e pedreiras, espalhados por mais de mil sítios arqueológicos no Piauí. Os motivos mais frequentes das pinturas são cenas de caça, ritos sexuais, ritos com árvores, símbolos geométricos (espirais, círculos, losangos), animais e cenas do cotidiano.

Estas descobertas parecem indicar a existência de diversas etnias, com hábitos nômades e vida baseada na caça e na pesca, além de uma vida religiosa intensa e integrada à natureza da região. No Piauí também foram encontrados vestígios da passagem dos primeiros grupos humanos pelo continente americano. A arqueóloga Niède Guidon encontrou alguns dos sítios arqueológicos contendo artefatos que datam de 45.000 anos atrás.

Culto

Centros de Fé

Integrantes da etnia Fulni-ô, na Serra da Capivara (PI)
As tribos piagas praticavam seus ritos em meio à natureza, por isso não há registros de templos no sentido moderno do termo.

A forma de culto praticada pelos antigos povos piagas assemelhava-se aos que eram realizados por outros povos politeístas, como celtas e bálticos, que realizavam seus ritos em bosques sagrados.

Alguns sítios rupestres, como os da região do Parque Nacional de Sete Cidades, são considerados sagrados pelos atuais praticantes do piaganismo, pelo fato de terem vestígios da passagem dos ancestrais da terra.

Culto Piaga durante a Festa do Sol 2014
Nesses sítios arqueológicos espalhados por todo o território do Piauí, há vestígios da ancestralidade piaga, em sugestivos grafismos rupestres.

Na atualidade, os piagas têm como principal centro de culto um templo moderno, construído na área rural do município de José de Freitas. Algumas celebrações modernas conduzidas por alguns grupos são realizadas em bosques e áreas da natureza, como margens de rios e lagos.

Figuras de Culto

Nos ritos piagas são cultuados Deuses de diferentes panteões, além de espíritos e figuras míticas denominadas "encantados". O culto piaga é caracterizado por duas correntes: a Corrente da Terra e a Corrente Colona.

Representação da Senhora da Carnaúba
Na corrente da terra estão englobados os Deuses e espíritos nativos, enquanto que na Corrente Colona estão englobados os Deuses e entidades de panteões (grupos de Deuses) estrangeiros. As divindades do culto piaga são representadas geralmente em madeira ou em argila, com características e traços que remetem à tradicional arte santeira nordestina.

Algumas das principais divindades cultuadas no piaganismo: Senhora Carnaúba (Deusa da Providência); Mestre Babaçu (Divindade da força e resistência); Piaga Alado (Guardião da fé ancestral); Macyrajara, Yara e Miridan (Guardiãs de Lagoas da região); dentre outros.

Roda Piaga

O calendário anual de celebrações do piaganismo é denominado Roda Piaga e consiste em oito festivais principais, além de festivais menores, que podem variar conforme a aldeia 1 . . Essas celebrações se baseiam nos ciclos da natureza local, nos períodos de seca, chuva, floradas e colheitas. Os oito principais festivais anuais são:

21/12. Festa da Vida
01/02. Festa das Luzes
21/03. Festa das Flores
01/05. Festa da Fertilidade
21/06. Festa do Sol
01/08. Festa dos Grãos
21/09. Festa da Carnaúba
31/10. Festa das Almas

As velas são comumente utilizadas na liturgia piaga

Bibliografia

* COUTINHO, Reinaldo. Enigmas de Sete Cidades. Piripiri, PI, 1997.
* IBIAPINA, Fontes. Passarela de Marmotas. Ed. Comepi. 1975.
* IBIAPINA, Fontes. Crendices, Supertições e Curiosidades Verídicas do Piauí. FCMC, 1993.
* MAHIEU, Jacques de. Os Vikings no Brasil. Ed. Francisco Alves, 1976.
* MARTIN, Gabriela. Pré- História do Nordeste do Brasil, 4 ª Edição, Ed. Universitária UFPE – Recife, 2005.
* MAUSO, Pablo Villarrubia. Mistérios do Brasil. Ed. Mercuryo.
* SCHWENNHAGEN, Ludwig. Antiga História do Brasil: de 1100 a c a 1500 dc. Editora do Conhecimento, 2008.
* VIEIRA. Luiza de Albuquerque Leite. Paganismo Piaga. Traços do passado desenhando o presente: associações entre arte rupestre e os cultos de um grupo religioso do Piauí.

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