quarta-feira, 22 de julho de 2015

Mestre Buriti, guardião dos buritizais

Dentre tantas árvores sagradas abundantes nas terras piagas, o Buriti (Mauritia flexuosa) merece destaque pela sua grande energia e porte magnífico.

Também chamado de Miriti, o Buriti é uma figura presente em nossa mitologia piaga, no mito que conta sobre o surgimento do Buriti, como um presente dado aos humanos pelo Deus Tupã.

O mito do Buriti vem da região onde hoje é a cidade de Buriti dos Lopes, no sul do Piauí. Conta-se que muitas tribos habitavam aquela região, mas dentre todas, a mais respeitada era a do Cacique Airuanã, cuja aldeia pertencia à nação Tapuia e se localizava às margens férteis do caudaloso Riacho Muriti, como na época era chamado.

Buritizal (Foto: Peter Caton)

Na aldeia de Airuanã, os indígenas viviam com alegria e harmonia. Em noites de luar, diante de uma grande fogueira, todos se reuniam para conversar e compartilhar suas experiências e mitos.

Numa dessas noites, quando todos estavam reunidos sob a luz do luar, a filha mais jovem do cacique Airuanã, a linda Araci, indagou ao seu velho pai sobre o surgimento da primeira das palmeiras que tanta fartura lhes oferecia. Airuanã, sentado no tronco de um Angico Branco, explicou a todos o mito:

O Deus Tupã tinha nas mãos uma linda semente e, olhando para o nosso lugar, disse:
“Vou presentear esse povo com uma semente muito especial”, e nos abençoou com a palmeira Buriti.
Mas, no momento em que Tupã ofertava a semente, um espírito do mau, chamado Mauarí , passou por perto e, com inveja, indagou Tupã:
- Onde vai plantar esta semente? Como vai se chamar?
Tupã, percebendo a inveja e ganância de Mauarí pela semente, não disse nada e esperou ele ir embora, quando só então deu nome à semente.
Ao entregar o presente divino aos índios, Tupã disse:
- Desta semente nascerá uma imponente árvore que terá o nome Muriti. Será uma palmeira de grande porte e crescerá de 35 a 40 metros de altura. Seu espírito reinará sobre as matas desta terra e dela derivará o nome deste lugar. No desabrochar de suas palhas verde esmeralda, as do olho formarão uma bela coroa, que será vista por todos observadores e, depois de aberta, já com forma de uma grandiosa mão, protegerá todos desse lugar. Em gratidão pela dádiva recebida e pelas bênçãos da palmeira sagrada, deverão respeitar e preservar sua existência.

Representação do Mestre Buriti
Os ancestrais indígenas cuidaram logo de plantar a semente, da qual nasceu a primeira palmeira de buriti. A partir da árvore matriz, vários outros buritis surgiram, dando origem a um vasto buritizal, onde habita o Mestre Buriti, espírito divino da natureza, que vigia os buritizais e concede as bênçãos de fartura aos homens que deles cuidam.

Os enormes cachos de frutos do Buriti possuem mais de dois metros de comprimento, trazendo belos frutos arredondados, de escama vermelha. Dos frutos se extrai uma polpa de coloração amarelo dourado, que é aproveitada para fabricação de doces, pamonhas, azeites e licores. A palha do buriti serve para cobertura de casas e suas raízes se nutrem das águas de riachos e olhos d'água, onde costumam brotar.

O invejoso Mauarí, irritado com a felicidade dos índios que foram presenteados com a semente, se enfureceu com Tupã por não ter confiado nele, por isso rogou uma maldição nos buritizais da região, dizendo:

- Quando a ganância e a inveja falarem mais alto, os homens se tornarão ambiciosos pelo poder e não mais se respeitarão, assim toda essa harmonia e fartura terão fim. As águas secarão, o fogo queimará, o solo empobrecerá e os buritizais não mais produzirão.

Tupã, ao tomar conhecimento do mau agouro profetizou:
- O presente que entreguei não pode ser maculado. Mesmo quando tudo parecer perdido, sempre haverá homens de boa vontade que tudo farão para impedir essa maldição. Enquanto houver homens de bom coração que defenderem os buritizais, o espírito das matas se manterá vivo e as nobres palmeiras resistirão de pé.

Fonte:
Portal Buritiense

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