terça-feira, 21 de novembro de 2017

Piaganismo: reflexões sobre Elitismo espiritual x Simplicidade pagã

Há alguns dias vi um comentário de crítica em relação a praticantes de ritos pagãos, que pelo fato de serem pobres e analfabetos não poderiam estar conscientes de suas próprias ações litúrgicas. Isso me fez refletir sobre o quanto o meio pagão está repleto de preconceitos e desconhecimento sobre sua própria história. Ora bolas, o paganismo não tem suas raízes no pagus? Então, não seria incoerência querer incompatibilizar essas espiritualidades e sua adoção por parte do homem rústico, dos pobres e analfabetos?



Infelizmente, muitos seguidores contemporâneos do politeísmo, especialmente no ocidente, estão habituados a imaginar que todos os adeptos de tais crenças sejam pessoas letradas, com certo conhecimento histórico e preparo para definir claramente (quase com critérios acadêmicos) suas próprias crenças, como se todas as nuances de politeísmo/paganismo coubessem num mesmo conceito inquebrantável. Talvez menoscabam tantos aldeões, pedreiros, lavradores e tantos outros ancestrais politeístas analfabetos, e nem por isso desprovidos de fé.

De fato, estudo e fundamentação são importantes para desenvolver a plena consciência do que se pratica, mas toda essa carga teórica é requisito cobrável de sacerdotes e acadêmicos, não sendo imprescindível para validar a prática de qualquer fiel.

Se compreendermos o paganismo como um movimento que transcende os limites da religião, perceberemos que é um amplo sistema, que abrange também aspectos da cultura, comportamento, modo de vida, arquitetura, música, literatura, agricultura, etc.

Como foi no passado e continua sendo nos dias de hoje, pagãos não vivem só em bibliotecas estudando as teologias politeístas. Nem todos estão navegando em páginas da web ou compartilhando suas práticas religiosas com grupos virtuais. Nem todo pagão tem acesso à internet. Alguns pagãos nem sequer sabem ler. Será que isso os desqualifica?

Em minha humilde opinião, apesar de conhecimentos históricos e teóricos serem fatores enriquecedores para qualquer religioso, creio que a espiritualidade não exige diploma ou certificado de existência virtual para ser validada.

Pagãos contemporâneos, como os do passado, também estão em todos os cantos, mesmo que nem sempre tenham necessidade de se autoafirmarem membros de algum sistema politeísta específico. Muitos estão sim, buscando a conexão com suas raízes espirituais através de livros, pesquisas acadêmicas, estudos teóricos. E isso é bom, é importantíssimo e enriquecedor. Mas, vale lembrar também dos pagãos que bebem de outras fontes, daqueles que nem sequer sabem ler, mas que mesmo assim fazem riquíssimas leituras do universo que os cerca; aqueles que percebem a magia das divindades durante seus ritos e danças, plantios, construções, narrativas mitológicas; aqueles que evocam proteção dos Deuses durante seus combates diários.

Pagãos estão em todos os setores, podem ser médicos, advogados, professores, jogadores, soldados, ferreiros, carpinteiros, horticultores, zeladores, letrados ou analfabetos, pobres ou ricos.

O academicismo cobra-se dos acadêmicos e teóricos, dos fiéis é de se cobrar apenas a fé, sem pré-requisitos elitistas para validar suas religiosidades. Aliás, tem gente que lê mil livros e não consegue compreender a essência da fé, nem consegue alcançar o desenvolvimento espiritual que muitos analfabetos alcançam.

2 comentários:

  1. Me indica livros, sites para eu entender melhor o assunto. Pretendo visitar e participar em breve. Obg.

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    1. - Caminhos Piagas (Rafael Nolêto) Disponível no site Clube de Autores.
      - Ao Redor do Eixo (Rafael Nolêto) Disponível no site Clube de Autores.
      - Antiga História do Brasil (Ludwig Schwennhagen). Editora do Conhecimento.

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