quarta-feira, 23 de setembro de 2020

O culto aos Botos Encantados no Piaganismo

Os Botos compõem uma linhagem de Encantados muito vasta, mas ainda pouco trabalhada pelos médiuns em geral. É mais comum presenciar manifestações de Botos Encantados em algumas casas de culto afro-amazônico ou em ritos de pajelança cabocla.


De acordo com as lendas populares do norte do Brasil, os Botos são golfinhos capazes de assumir a forma humana em noites de luar. Segundo essa crença, os Botos vêm aos povoados ribeirinhos em busca de moças para namorar

Quando assumem a forma humana, eles podem interagir em festas e são facilmente confundidos com homens comuns. Porém, algo que diferencia os Botos, além de seu charme irresistível, é o fato deles sempre estarem de chapéu, bem vestidos com terno ou roupas brancas bem elegantes.

O chapéu de um Boto serve para esconder o buraco que existe em sua cabeça, que é por onde ele respira. Em seu processo de metamorfose, o Boto conta com animais encantados que se transformam em partes de seu típico traje. Uma arraia que lhe acompanha se transforma no seu chapéu panamá, enquanto um casal de acaris ou bodós (Hypostomus plecostomus) se transforma em seu elegante par de sapatos.

Em algumas regiões ribeirinhas da Amazônia, era comum acusar os Botos de serem pais de crianças cujos pais não se conhecia. Isso porque, durante noites de luar, os Botos seduziam e mantinham relações sexuais com as moças que encontravam às margens das águas ou nas festas interioranas.


Dizem que, para dar continuidade à sua espécie de Botos Encantados, os machos precisam acasalar com mulheres humanas, pois só assim terão filhos híbridos que poderão se tornar novos Botos.

Os Botos encantados são extremamente ágeis e difíceis de serem capturados. Segundo a crença folclórica, apenas um filho de Boto pode conseguir mata-lo, utilizando um arpão; mas caso isso ocorra, o jovem se encanta e vira um novo Boto.

Esses encantadores seres atuam como guardiões dos portais da Encantaria, submersos no “Reino do Fundo”. Tanto nas águas salgadas como nas águas doces existem vários tipos de Boto, que possuem características distintas e podem se manifestar através de médiuns conectados às suas vibrações.

Na natureza, existem várias espécies de botos, dentre os quais posso citar o Boto-cor-de-rosa da Amazônia (Inia geoffrensis), o Boto-rosa-boliviano (Inia boliviensis), o Boto-do-araguaia (Inia araguaiensis), o Boto-tucuxi (Sotalia fluviatilis), o Boto-cinza (Sotalia guianensis), o Boto-de-burmeister (Phocoena spinipinnis) e o Golfinho-do-rio-da-prata (Pontoporia blainvillei). Algumas espécies de Boto correm sério risco de extinção, tanto por causa da degradação ambiental como por conta da pesca predatória e perseguição desses animais por pescadores que os temem.

Como seres dotados de magia, os Botos podem encantar, abençoar e também amaldiçoar aqueles que os perseguem. São comuns os relatos de pescadores que perseguiram Botos e tiveram, na sequência, uma maré de azar e até ficaram loucos. Por outro lado, para os que os respeitam, eles são gentis e até livram do perigo.

Além dos Botos machos, também existem relatos de Botas que são capazes de se transformar em belas mulheres ou até mesmo sereias. Em algumas localidades ribeirinhas, dizem que mulheres feiticeiras ou praticantes de pajelança também têm o poder de se transformarem em Botas, em noites de luar.

Diferente dos Botos garanhões, as fêmeas são mais cautelosas quanto ao contato com os humanos e podem ser bem mais perigosas, quando se sentem ameaçadas. As Botas emitem gritos agudos, deixando pescadores atordoados e provocando perturbações mentais. Quando irritadas ou quando precisam defender seus territórios, elas também podem atacar e até mesmo devorar os homens.

Juntamente aos pajés e praticantes de magia, os Botos atuam especialmente em trabalhos de fertilidade, abertura de caminhos, cura e também em magias de amor.

Um dos primeiros Encantados que se manifestaram em mim, através do processo de incorporação, foi o Mestre Boto, que não é muito de conversar, mas possui grande sabedoria e sempre “emerge” ao nosso plano para auxiliar em trabalhos de limpeza espiritual. Geralmente o Mestre Boto vem após outras entidades, para “lavar” a sujeira astral que porventura tenha ficado no local após os trabalhos.

Quando descem nos médiuns, os Botos realizam movimentos que lembram o balanço das águas. Não gostam de ficar com a cabeça exposta, então é recomendável ter um chapéu branco especialmente para ele utilizar quando vier.

O chapéu é importante porque o Boto também pode utilizá-lo em seus trabalhos mágicos, retirando larvas astrais das pessoas e dos ambientes.

Quando a casa de magia não lhe oferece um chapéu, ele geralmente cobre a cabeça com a mão, para evitar que alguma energia opositora o atrapalhe durante a realização do seu trabalho. Uma das formas que os Botos gostam de cumprimentar as pessoas é movimentando o ombro e a cabeça.

O principal elemento de trabalho dos Botos é, sem dúvidas, a água, com a qual realizam a transmutação de energias e conduzem sua magia. Com seus passes mágicos, eles encantam poções de amor, banhos de cura, águas de limpeza e beberagens energéticas.

Quando estão incorporados com Botos, os médiuns podem realizar danças ou trabalhar no chão, com os pés juntos em forma de cauda. Os botos não costumam beber cachaça, mas gostam de beber muita água pura ou com açúcar.

Os Botos também possuem cânticos próprios, que podem ser entoados pelos fiéis durante seus cultos. Esses encantados podem trabalhar com a energia de pedras mágicas e também com a magia simbólica, através de pontos riscados ou selos mágicos.

Como oferendas, os Botos recebem pratos à base de peixe, entregues em cuias ou folhas de bananeira. Também recebem velas brancas, rosas ou azuis. 

Dentre os muitos Botos que se manifestam através de processos de incorporação, nem todos falam seus nomes verdadeiros, mas alguns se apresentam ou são nomeados pelos próprios médiuns. Dentre alguns Botos conhecidos que emergem em terreiros e casas de magia, temos o Boto Branco, o Boto Malhado, o Boto Juvenal, dentre outros.


Um comentário: