quarta-feira, 2 de julho de 2014

Curandeiro Catirina

Catirina (Ilustração: Rafael Nolêto)
No local sagrado hoje denominado "Parque Nacional de Sete Cidades", está localizada uma gruta em especial, situada na área da "Quarta Cidade", onde habitou um personagem enigmático e envolto por uma aura de magia popular e rústica.

O morador da misteriosa gruta era um senhor chamado José Ferreira do Egito, que ficou mais conhecido pelo apelido "Catirina". José vivia na região do parque, junto aos demais moradores, mas após a morte de sua esposa em 1936, ele buscou refugio em uma gruta da localidade, para onde se mudou junto com o filho Martinho, portador de deficiência mental.

Catirina teria fugido para sua gruta em dezembro de 1938. Apesar das decepções e dificuldades da vida, Catirina recomeçou sua busca pela "santificação" em meio ao isolamento, tendo que adaptar-se a vida rústica. Era um homem de baixa estatura, costumava usar batina e gostava muito de ler. Com suas pesquisas, experiências e convívio com o bioma local, Catirina tornou-se um sábio e habilidoso curandeiro.

Como ninguém, Catirina sabia utilizar as plantas medicinais da região. Os antigos moradores contam que Catirina socava as ervas e preparava suas misturas e poções mágicas em um buraco de 20 cm, feito numa pedra, no interior da gruta. 

Neste buraco na rocha, Catirina preparava suas poções.
(Foto: Lu Falcoa)
Acredita-se que o curandeiro buscava constantemente uma mistura mágica para poder curar o filho. O isolamento do nosso mago piaga na gruta durou cerca de oito anos (entre 1938 e 1946) e só acabou após a morte do seu filho, em 1944, quando Catirina voltou ao convívio familiar, após enterrar seu filho em um local próximo à gruta.

Após alguns anos junto à família, Catirina faleceu, de forma misteriosa, pois segundo relatos, o mesmo já sabia o dia e o horário exato que ia morrer, por isso chamou toda a família para despedir-se. O corpo de Catirina está enterrado no Cemitério do Paiol, no município de Piripiri.

Quando viveu em Sete Cidades, Catirina era muito querido na região, procurado para solucionar todo tipo de problemas físicos e espirituais, com suas rezas, benzimentos e beberagens. O sábio das pedreiras possuía um livro onde anotava todas as suas receitas mágicas, mas atualmente não se sabe o paradeiro deste rico material. Segundo José Romã, funcionário do IBAMA e que nasceu em Sete Cidades, o livro teria sido adquirido por um geólogo da Petrobrás e está em Natal, no Rio Grande do Norte.

Na Tradição Piaga Catirina é cultuado na Corrente da Terra, como parte da Linha das Almas. Recebe como oferendas, cumbucas de sapucaia, maços de ervas aromáticas, cumbuca de barro com sementes nativas e velas brancas. Ele é evocado quando se deseja pedir saúde, cura e força.


Selo do Curandeiro Catirina

Canto ao Mestre Catirina
Vem de dentro da caverna 
preparando a infusão 
É o Mestre Catirina, 
lá da mata traz poção (bis) 
Sabe os segredos das folhas, 
benze e reza pra curar 
Nosso mago das pedreiras, 
tem mistério pra ensinar. (bis)


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